Origens
Você já parou para pensar na origem das palavras — não desta ou daquela, mas de todas elas?
Uma das coisas que mais gosto de fazer é pesquisar a etimologia das palavras. Por exemplo, você sabia que quem paquera anda à caça, literalmente? Pois então fique sabendo que o verbo “paquerar” — no meio do caminho entre o formoso “galantear” e o abominável “xavecar” — tem a ver com a prosaica caça da paca. Para ajudar na captura do roedor de carne apreciada, muitos caçadores valiam-se dos “cães paqueiros”, cachorros especialmente adestrados na arte de espreitar a paca, ficar no seu encalço, cercá-la, até que, enfim, fosse capturada. Não demorou muito para que essa atividade rastreadora migrasse para o universo romântico: nascia assim o “paquerar” (acompanhado da queda da vogal i, como sói acontecer na nossa língua).
O nome “paca”, por sua vez, tem origem no tupi paka, que significa “atento, vigilante, desperto”, uma alusão às características comportamentais do animal. Como pode, então, o verbo “empacar” remeter a algo tão avesso ao espírito do roedor? Simples: o verbo não veio da arisca paca mas, sim, da geniosa alpaca, mamífero camelídeo nativo dos Andes, primo da lhama. Empacar, na verdade, é um verbo que veio do castelhano empacarse. Quando contrariada, a alpaca se deita no chão e não há nada que a levante. Já a paca, essa não empaca. Desculpem-me o trocadilho, mas etimologia é interessante pacas (já adiantando que a gíria não tem nada a ver com o roedor: trata-se de uma redução eufêmica do chulo “pa[ra] *a[ralho]”).
De etimologia em etimologia, essa história poderia continuar indefinidamente. Começamos pela origem de uma palavra, descobrimos seu parentesco com palavras aparentemente díspares, entramos num buraco de coelho de conexões etimológicas e, quando nos damos por conta, já estamos especulando sobre a raiz protoindo-europeia das palavras.
Dia desses, contudo, meu filho de oito anos me fez enveredar por territórios aonde nenhuma excursão etimológica jamais me levou. Queria ele saber:
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